Ice Ages:

 

Richard Lederer

 

Discografia:

 

"Strike The Ground" Cd 1997

 

 

"This Killing Emptiness" Cd 2000

 

 

 

 

 

  

O amanhecer das Idades do Gelo

Uma entrevista com Richard Lederer

  

  

O projecto Ice Ages foi fundado em 1994 por Richard Lederer, também criador do projecto darkwave Die Verbannten Kinder Eva's (DVKE) e membro da banda de fantasy black metal Summoning. Em 1997 foi publicado o primeiro CD de Ice Ages intitulado "Strike the Ground" (M.O.S. Records)

Comparado com as atmosferas envolventes e o som orquestral de DVKE, Ice Ages é mais agressivo e negro, transmitindo sentimentos de desespero e solidão extremos através do uso de musica fria, criada exclusivamente com sintetizadores, e da voz distorcida de Richard Lederer.

Em finais de 2000 foi lançado "This Killing Emptyness", o segundo CD de Ice Ages pela editora Napalm Records (http://www.napalmrecords.com). Este último trabalho apresenta ambientes ainda mais negros e envolventes.

  

  

GA - Talvez conviesse começar com algum enquadramento histórico... Como começou o projecto Ice Ages?

 

Richard: A primeira canção de Ice Ages é tão antiga como a primeira canção de DVKE. Quando arranjei o meu primeiro sintetizador comecei a fazer música de ambos os modos (de orientação clássica e electrónica). Nesta altura já gostava muito de bandas como Leaetherstrip e também pretendia criar música desse modo.

Gravei muitas músicas instrumentais mas não as publiquei ao mesmo tempo que publiquei as musicas que foram feitas para DVKE. Mais tarde descobri a forma perfeita de cantar para as minhas musicas instrumentais. Sempre quis uma voz distorcida para as minhas canções mas não sabia qual o som ideal para as canções. Mas finalmente cheguei à conclusão que a voz devia focar-se mais num tom sombrio do que em agressão.

Mais tarde assinei um contrato com a editora M.O.S. e foi lançado o primeiro álbum de Ice Ages. Devido a problemas com a editora, o segundo álbum de Ice Ages foi publicado pela editora Napalm Records/Draenour Productions.

 

GA - Na altura, como estava relacionado o projecto Ice Ages com outros projectos musicais seus na altura (como DVKE e The Summoning) e o que o levou a esta diferente direcção musical?

 

Richard: Creio que a diferença reside mais no som do que na composição. É claro que as canções de Ice Ages são muito mais ritmadas que as canções de DVKE mas, de qualquer modo, todos os meus projectos têm algo em comum: são sombrios ao mesmo tempo que são melódicos. DVKE apenas foca mais ambientes clássicos enquanto que Ice Ages foca mais um ambiente futurista e frio.

A razão porque faço música para estes diferentes projectos é porque quero manter o meu trabalho variado. Há alturas em que não me aparecem ideias para um arranjo clássico, então começo a fazer musica com som electrónico ou tambores distorcidos, subitamente aparecem muitas ideias. Para mim, esta é a forma perfeita de manter a minha musica sempre nova e criativa.

 

GA - E a (óbvia) questão... como surgiu o nome Ice Ages?

 

Richard: O nome foi criado por Ashley da banda Whispers in the Shadow (http://www.wits.tsx.org). No principio eu apenas tinha a noção que queria um nome que exprimisse a frieza e escuridão da musica; e a ideia que Ashley deu foi a melhor.

 

GA - Existe correntemente algum tipo de interacção criativa entre The Summoning, DVKE e Ice Ages?

 

Richard: Não exactamente uma interacção. Mas creio que os projectos soariam diferentemente se os outros não existissem. A única verdadeira interacção foi quando usei a melodia principal de "Trapped and Scared" do primeiro CD de Ice Ages para uma musica num CD de The Summoning. Tirando isso os projectos são independentes uns dos outros.

 

GA - E quais são, na sua opinião, as principais diferenças entre DVKE, The Summoning e Ice Ages?

 

Richard: DVKE traduz um ambiente histórico. Neste projecto uso o meu sintetizador para musicas de tom clássico. Tânia e eu cantamos com vocalizações de inspiração clássica (sem distorção) com acompanhamento de sons orquestrais.

Em Summoning também toco guitarras além de usar sintetizadores e fazer vocalizações. Este projecto traduz o ambiente do mundo de fantasia do "Senhor dos Anéis" de Tolkien, na perfeição. A música é muito mais patética e agressiva que a de DVKE; e Silenius e eu usamos gritos como vocalizações em vez de vozes de inspiração clássica.

Opondo-se a isto, a música de Ice Ages cria, na imaginação, um mundo futurista sombrio e gélido; com máquinas em vez de humanos. Mesmo a voz distorcida não lembra um ser humano.

 

GA - O que é que caracteriza Ice Ages em particular? Qual diria ser o 'objectivo' do projecto Ice Ages (e, não, não estamos a sugerir que deva haver uma 'mensagem' ;-] )?

 

Richard: Apenas posso dizer que o propósito de Ice Ages é criar música electrónica sombria. Nos últimos tempos, muitas bandas do sector EBM transformaram a sua música em música de orientação techno perdendo parte do seu lado sombrio. Tento manter a construção das minhas músicas na tradição de bandas EBM mais antigas (como Leaetherstrip) e adaptar isso ao meu gosto musical. Em vez de ir buscar influências à cena de dança techno, tento ir mais na direcção de darkwave e gótico.

 

GA - Vendo a sua discografia, torna-se rapidamente aparente que deve ser uma pessoa muito ocupada e dedicada. Quanto tempo e dedicação são necessários para se ter um envolvimento musical como o seu?

 

Richard: Requer algum tempo, mas não tanto como se possa supor. Ao contrario de 'bandas reais' apenas uso o meu sintetizador e não tenho que ensaiar canções já existentes, vezes sem conta, para espectáculos ao vivo. Posso criar as minhas músicas a qualquer altura e não tenho que ir para um estúdio se quiser criar uma nova canção. Portanto, a minha música não requer tanto tempo como aconteceria se fosse membro de uma banda.

 

GA - Como coordena os seus diversos projectos musicais e quais são as suas principais fontes de inspiração para prosseguir com os seus diferentes projectos? Em particular para Ice Ages, há algumas fontes de inspiração que tenham sido particularmente relevantes para este projecto (literatura, música, cinema e arte em geral)?

 

Richard: Não posso referir nenhum livro que tenha influenciado o meu trabalho, mas de filmes referiria "Dark City" pois adequa-se melhor à minha música (devido ao ambiente sombrio e futurista). O quadro de Bekzinski (que mais tarde usei para a capa de "This Killing Emptiness") também expressa algumas emoções especiais que se adequam bastante à minha música.

 

GA - Como funciona o seu processo criativo, especialmente em projectos a solo como Ice Ages?

 

Richard: Tenho uma pequena 'sala de música' (com os meus sintetizadores e computador) na minha cave. Se me sentir com vontade de criar novas músicas apenas tenho que caminhar durante um minuto até a cave e posso começar a trabalhar imediatamente. Por vezes começo por tentar criar novas melodias mas falho completamente; mas frequentemente consigo.

 

GA - Como é que uma canção/peça musical nasce (i.e. compõe as peças primeiro e depois aperfeiçoa-as, cria-as por improviso ou outro processo)?

 

Richard: Normalmente crio musicas e canções num só passo. Quando descubro uma nova forma de criar uma melodia, posso realmente sentir como a minha mente começa a abrir para novas melodias. É um pouco como uma porta fechada que se abre, e subitamente a passagem é extremamente fácil. Logo que começo, tenho tantas ideias que há mais do que suficientes para uma canção completa. E logo que a parte instrumental esteja acabada, encontro as melodias vocais muito rapidamente.

 

GA - Cremos que o álbum "This Killing Emptiness" foi o primeiro para o qual escreveu as letras para um dos seus CDs, sendo as letras para o resto do seu trabalho musical escrito por outros (poemas de Shelley em DVKE, Raymond Wells da banda Pazuzu em "Strike the Ground"...).

 

Richard: Isso é correcto. No passado, eu simplesmente não era capas de escrever letras. Quando as tentava escrever, escrevia sempre frases claras. Não era capaz de me afastar do aspecto lógico das palavras e usa-las mais como um método para criar ambientes. Agora já sou capaz de o fazer; não sei realmente porquê.

 

GA - Como cria a sua música usando letras de fontes externas?

 

Richard: Em "This Killing Emptiness" não usei apenas letras escritas por mim. Quatro letras (que se contam entre as melhores) foram escritas por Grom. Entrei em contacto com ele devido à homepage de Summoning, na qual ele está envolvido. Ele mora na Sibéria mas a distância não dificultou a nossa cooperação. Mandou-me as letras por e-mail. Por exemplo, a faixa principal, tal como o nome do CD, provém de uma das suas letras.

 

GA - Há uma clara evolução de "Strike the Ground" para "This Killing Emptiness", não só em termos de estilo mas possivelmente também nos ambientes e paisagens musicais criadas pela música. "TKE" aparenta traduzir um maior sentimento de desespero que "StG". Enquanto que "StG" representava (na nossa opinião) um local totalmente desolado onde a vida nunca existiu nem existirá, em "TKE", apesar do desolamento, há uma sensação de que haveria inicialmente vida e esperança que foram perdidas mas nunca serão recuperadas. Do mesmo modo, em "TKE" sente-se uma presença, que serve de companhia ao ouvinte, que conta o seu sofrimento, enquanto em "StG" o ouvinte era um observador que se encontrava completamente só. Esta presença torna "TKE" um álbum muito mais depressivo (e diga-se que a pintura da capa por Zdizlaw Bekzinski é perfeitamente adequada aos ambientes criados pela musica do álbum). Gostaria de comentar?

 

Richard: Obrigado pela interpretação. :-) Foi realmente interessante saber o que pensam quando ouvem Ice Ages. De facto, a vossa interpretação é similar à minha na maioria dos casos. Mas não diria que há uma única verdadeira interpretação; cada ouvinte deverá procurar a sua.

De qualquer modo, estou feliz que considerem "TKE" como o álbum mais depressivo, pois esse era o meu objectivo. Creio que as canções em "TKE" criam um grande mundo, enquanto as canções em "StG" eram mais separadas. A grande diferença na composição [de um álbum para o outro] é que as canções agora são muito mais lentas (o que as faz ainda mais depressivas).
E obviamente o novo equipamento musical e o facto de toda a música ter sido gravada por mim, desta vez, é importante para muitas mudanças.

Concordo que em "StG", ao contrario de "TKE", o ouvinte toma o papel de observador (embora nunca tenha considerado essa ideia :-) ). Creio que a razão para isso é que a voz soa muito mais próxima ao ouvinte em TKE.

 

GA - Saindo um pouco das perguntas 'técnicas' e inquiridoras sobre o seu trabalho... quais são os seus planos para futuros lançamentos dos seus projectos musicais?

 

Richard: Não tenho planos para DVKE e Ice Ages. O próximo CD será certamente um novo CD de Summoning. Para o qual já existem algumas canções. Quando esse novo CD de Summoning for lançado começarei a pensar sobre novos lançamentos, mas neste momento não posso dizer nada sobre isso.

 

GA - E, obviamente, planos de espectáculos ao vivo?

 

Richard: Apenas posso dizer que haverá um concerto [de Ice Ages] na Holanda (Tilburg) em 13.04.2001 como apoio para In Strict Confidence (http://www.instrictconfidence.com).

 

GA - Qual a sua opinião sobre o estado actual da chamada cena 'dark' (electro/industrial, gothic e metal) na Europa?

 

Richard: Os problemas que tenho com a maior parte das bandas da cena electro é que se estão a transformar mais e mais em bandas de dança comerciais. Todas as bandas de que gostava no passado (Funker Vogt, Evil's Toy) agora usam ritmos e baixo techno e sons de influência rave. Preferiria se houvesse uma verdadeira cena techno e uma verdadeira cena EBM em vez de uma mistura de ambas.

 

GA - E o que pensa acerca da possibilidade de as sub-culturas 'dark' se tornarem objecto de atenção mainstream e potenciais alvos para exploração mercantilista como aconteceu com outras sub-culturas?

 

Richard: Penso que a sub-cultura dark se encontra no melhor caminho para se tornar pura música mainstream. Ao contrário de criar uma oposição real ao mainstream (como aconteceu, por exemplo,  com a cena de metal no passado), a sub-cultura dark tenta envolver na sua música mais e mais elementos que estejam na moda; mas isto já não é underground para mim. Obviamente há algumas excepções que fazem musica electrónica melódica (como Anaest, Leaetherstrip e In Strict Confidence por exemplo).

Quando penso na cena Darkwave de à aproximadamente 6 anos (quando a conheci), lembro-me do primeiro CD de Das Ich que era totalmente sombrio de um modo especial e usava ritmos totalmente 'un-groovy', quase maquinais. Mas agora, a maioria das bandas adicionou bateristas, guitarras ou ritmos techno à sua musica (não tenho nada contra guitarras, bateristas ou batidas techno; mas é triste que já não haja muitas alternativas a isto).

 

GA - Algumas palavras finais ou pedidos finais? ;-)

 

Richard: Obrigado pela entrevista; foi realmente interessante.

 

(March, 2001)

Sick Boy and T.P.W.A.N., originalmente publicado na webzine Goths Anonymous (http://gothsanonymous.tripod.com)

Tradução: J. Macau

  

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