Desejo de morte

 Ilicitamente transcrito

 

1 de Abril de 1998. Roger Alan Painter - caucasiano de 35 anos, divorciado – foi encontrado morto na sua residência em West Hollywood. A vítima encontrava-se pendurada pelo pescoço na porta de um armário; no chão do quarto pairava uma carta com a sua assinatura  Sem mais factos que apontassem outras probabilidades da sua morte, conclui-se que tenha sido suicídio…

 

6 de Novembro de 1963. Roger Alan Painter nascia em Poloma, a cidade onde iria passar a sua infância e adolescência, crescendo no seio de uma família onde os valores morais e conceitos religiosos, eram extremamente rígidos e conservadores.

Assimilado por uma típica fúria adolescente, Roger tomou consciência de que para além da vontade de expressar a sua revolta, sentia também um tremendo ímpeto de criar algo consistente, algo que suportasse a imagem e as palavras daquilo que ele entendia do mundo à sua volta. 

Até que um dia num cemitério de Poloma, Roger caminhava completamente absorvido pelas suas ideias e vontades. Sentou-se para descansar. Ao seu lado estava uma campa comum; contudo tinha um nostálgico carisma que lhe chamaria a atenção... a fotografia e o nome – Rozz Williams.

Obcecado com a imagem e com a nostalgia que lhe havia ficado daquela situação no cemitério, Roger auto-baptizou-se de “Rozz Williams”, o nome que iria usar para o início de uma desejada nova vida.

  

Ainda com 16 anos, Rozz Williams (Roger Painter), tinha tido uma série de experiências com bandas tipo os “The Asexuals”, “The Crawlers”, “No”, e os “The Upsetters”. Nesse mesmo ano, sentindo-se insatisfeito com as bandas que tinha tido, Rozz tenta mais uma vez. Os novos membros que se juntavam a este eram: Rikk Agnew, James McGearty e George Balanger. Agora só faltava o nome para a banda…

O fenómeno que daria origem a essa falha, foi algo que surgiu casualmente. À custa da T-Shirt de uma amiga, Rozz e Rikk começaram a gozar com a marca da peça de vestuário, cuja sigla era Christian Dior, e após uma série de anagramas e trocadilhos surge-lhes a ideia de um nome para a banda… Christian Death.

Cerca de um ano depois, em 1981, os Christian Death apresentam o álbum de estreia “Only Theatre Of Pain”, um clássico que demarcaria um estilo único denominado de “Death Rock”. 

  

Rozz tinha apenas 17 anos, contudo a sua maturidade e a da banda, em palco, era plena. Palavras de ordem; mutilações, invocações... pormenores que serviam para acentuar o impacto das músicas sobre a audiência. Opção ou não, o certo é que Rozz queria criar algo novo; algo que escapasse às influências musicais que tinha: o Glam Rock e o Punk Rock. Então, o carisma eclético das sua letras, mais o factor teatral do Glam combinado com agressividade do Punk, vincariam os traços principais do seu primeiro álbum.

  

Em 1983 Rozz conheceu os Pompei 99. Uma banda algo pretensiosa, contudo inteligente... fizeram uma série de concertos - Pompei 99 / CHRISTIAN DEATH – e entretanto surge uma oportunidade dos Christian Death fazerem uma tour europeia. Sentindo-se demasiado preso aos Pompei 99, Rozz tinha plena consciência que era impossivel as duas bandas seguirem rumo ao velho continente. Decide então mudar o line-up da sua banda, recrutando dos Pompei 99 Valor; Gitane Demone e David Glass.

A tour na Europa havia sido mais do que esperavam. É lhes proposto um contrato para gravarem dois discos pela editora L´Invitation au Suicide. Surgem então os últimos dois verdadeiros discos dos Christian Death – Catastrophe Ballet e Ashes. 

Descontente com a direcção que a banda estava a tomar, Rozz decide abandonar o projecto. A situação havia sido acordada e deixada clara... Valor mudaria o nome da banda para SIN AND SACRIFICE OF CHRISTIAN DEATH; e não voltaria a tocar em nenhuma circunstância, as músicas e letras de Rozz e dos Ex-Christian Death.

O desrespeito perante a vontade de Rozz deu-se. Valor ignorou por completo o acordo que havia feito. Desanimado com a perda de um dos seus projectos preferidos, Rozz continuou com inúmeros outros. Alguns bastante diferentes dos Christian Death, outros uma espécie de continuação.

A tentativa de continuação foi de facto óbvia; contudo compreensível. Depois do seu casamento com Eva O, Rozz é incitado pela mulher a continuar o seu projecto Christian Death; ignorar a outra banda também chamada de “christian death”, e gravar. Surge então uma continuação dos Christian Death não muito bem vista pelos fans. Dessa continuação salientam-se dois álbuns de originais – Path Of Sorrows e Rage Of Angels – e mais um de versões dos primeiros três álbuns, chamado Iron Mask.

  

O fanatismo excessivo dos fans de Christian Death, fez com que estes últimos trabalhos não fossem reconhecidos com o verdadeiro mérito e valor que têm. Este feedback exterior fez com que Rozz desanimasse o suficiente para passar de vez os Christian Death para segundo plano, dando prioridade a outro projecto paralelo denominado de Shadow Project.

Deste projecto de Death Rock fizeram parte Eva O., William Faith (membro fundador dos Faith And The Muse) e Paris. Todos eles tinham feito parte do line-up dos dois últimos álbuns de originais dos Christian Death.

 

Aparte destes projectos musicais, Rozz mantinha ainda uma série de outros com temáticas e sonoridades diferentes. Os Premature Ejaculation eram um dos mais antigos projectos paralelos aos Christian Death. Em meados de 1980 Rozz Williams e Ron Athey haviam decidido que aquele projecto não seria de carácter musical, mas sim experimental. Consistia numa série de performances suportadas por ambientes sonoros que iam desde discursos políticos até sons mecânicos. O objectivo principal era envergonhar as pessoas daquilo que elas eram, mostrando em palco as fraquezas humanas, ridicularizando-as.

Daucus Karota foi outro registo onde Rozz expôs a sua apreciação pelo rock como o seu género musical preferido. No entanto este projecto foi bastante efémero, deixando apenas um E.P. de seis músicas, cinco originais e uma cover dos Stooges - “Raw Power”.

Rozz Williams (solo); Deathflux; Heltir; Bloodflag; EXP; 1334. Foram mais alguns projectos e participações que fizeram parte da carreira de Rozz Williams. Porém não foram suficientes para refugiarem a fragilidade de um homem que não entendia o mundo nem o seu sentido. 

  

Em 1997 Rozz já não estava ligado a nenhuma banda, havia desistido. Pensou que a sua obra não tinha significado. Devido às inúmeras imposições que as editoras continuavam a fazer sobre determinados aspectos do seu trabalho, Rozz deixou de acreditar na música. Concluiu que só um produto sem alma poderia vender o bastante para satisfazer a boca das companhias discográficas.

 Rozz continuou com a sua sede de criar; de se expressar. Passava longos dias a caminhar sem destino, recolhendo objectos na rua (lixo), onde mais tarde os recriaria nas suas montagens e colagens de expressão plástica, uma actividade diária pela qual ele parecia bastante interessado.

Eva O. encontrou naquela altura um homem que já não conhecia... um homem triste, amargo e revoltado com tudo; desequilibrado. O divórcio foi inevitável.

Agora Rozz estava só. Desempregado. Mudara-se para um quarto em West Hollywood. Tinha breves e casuais encontros com pessoas que o tinham acompanhado durante anos. Expressava sempre o típico sentido de humor e boa disposição pela qual era conhecido, pouco mais que isso...

 

Ainda em 1997, Nico B. amigo de longa data de Rozz, havia-se mudado para L.A.. Encontraram-se, e Rozz falou-lhe de uma ideia que tinha em mente, a realização de uma curta metragem de cinco / dez minutos. O nome do novo projecto chamava-se PIG, e o argumento proposto por Rozz, captou completamente a atenção de Nico B. (fotógrafo que já havia trabalhado para uma série de projectos do Rozz). Nico B. opinou que se a ideia de Rozz fosse mais explorada, daria uma curta metragem mais extensa com cerca de vinte e cinco minutos. Rozz concordou...

O projecto foi concluído em 1998, alguns meses depois da sua morte. Foi o último marco que Rozz deixou ao mundo. No ano de 99, o filme “PIG” foi seleccionado para o festival de cinema N.Y. Underground Film Festival...

Roger Alan Painter de 35 anos havia deixado o mundo. Foi encontrado pelo próprio pai - Robert N. Painter -  morto num apartamento onde havia passado os seus últimos meses de vida. Uma casa  desoladora e pobre, sem mobilia nem bens, só o armário onde Rozz se havia enforcado e uma cama vazia. O último refúgio de Roger.

O funeral foi feito em Dudley Apple Valley em casa dos seus pais...

 

Roger Alan Painter

1963 - 1998

 

Sandro F.

 

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